PROJETO DE ARTES VISUAIS - PROPOSTAS DE ARTE EFÊMERA
turma 1901 - propostas concebidas a partir de visitações à ArtRio e ao MAM-RJ - 2011
Profª Imaculada Conceição M. Marins
Como trabalhar alguns conceitos da arte contemporânea na escola, em especial, a "arte efêmera"?
A partir do conceito de efemeridade (que não diz respeito apenas às artes, é um conceito muito forte no mundo contemporâneo e que merece sempre reflexão), escolhi a turma 1901 (uma das turmas do último ano do Fundamental II) para a realização desta proposta de arte. A escolha para a realização do trabalho foi por conta de uma oportunidade que a turma teve: a de participar de duas visitações a espaços externos ligados à arte moderna e contemporânea: ArtRio Fair (no dia 9 de setembro, de 2011) e MAM-RJ (20 de outubro, de 2011). Foram destas mostras (e dos artistas que a turma elegeu) que o trabalho se realizou.
A Origem
Dois alunos da escola, Felipe e Thiago, da turma 1903, foram convidados para uma experiência pioneira, o projeto piloto de alunos de escolas públicas da Rede Municipal do Rio como monitores de exposições de artes - quando da visitação de escolas (ver notas 1 e 2). E a turma 1901 foi a primeira a conhecer de perto o trabalho desses alunos monitores, assim como, a primeira turma do Projeto a visitar a Feira de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro, a I ArtRio, que aconteceu em setembro de 2011, na zona portuária do Rio, no Pier Mauá.
Os alunos Felipe e Thiago, na entrevista com profª Jacqueline Mac-Dowell (SME-RJ) para participar do projeto de monitoria
Compreendendo conceitos da arte...
De volta à escola, discutimos alguns conceitos da arte contemporânea, como o gosto pela reprodutibilidade incessante das imagens, a virtualidade, o simulacro, o "ilusionismo" das imagens de nosso mundo contemporâneo, a questão da "verdade" (da "veracidade dos fatos", da ambiguidade), a interatividade, a impermanência, a efemeridade, a imaterialidade, a preferência por temas ligados à política e às questões sociais etc.
Na arte contemporânea, a "ideia" é mais importante. E nem sempre acontece a feitura "manual" (e individual) da obra, muitos artistas contemporâneos contratam uma equipe de trabalho ou especialistas para auxiliá-los ou mesmo para "confeccionarem" a obra (arquitetos, engenheiros, biólogos, confeiteiros, químicos, marceneiros etc. - dependendo de quais profissionais serão necessários para a realização de suas propostas de arte). Quase sempre, porém, as obras tem uma (co)relação com a História da Arte e com o repertório da cultura e do conhecimento humano.
A partir da visitação à ArtRio, da qual não coloquei para a turma nenhum "pré-requisito", os alunos foram instigados a pesquisar mais sobre arte contemporânea e alguns de seus conceitos. E das pesquisas, fui colocando para a turma diversas questões para que os alunos refletissem, como, por exemplo, a questão da efemeridade da vida e de todas as coisas. A arte contemporânea costuma trabalhar muito esse conceito, mesmo que no fim das contas, os registros que são feitos das obras, tenham um caráter diferente (não-efêmero?) do proposto. Sim, porque os artistas e demais pessoas ligadas às artes (ou não... às vezes, apenas "visitantes", espectadores) realizam diversos registros (fotos, filmes etc.) que fazem a obra (per)durar para além do tempo a que se propunha.
Alunos fazendo seus registros fotográficos. Na ArtRio...
No MAM-RJ...
Certo, a exposição não era sobre arte efêmera, e os trabalhos que os alunos viram na Feira de Arte (ArtRio 2011) tinham um cunho financeiro, eram "objetos" para serem vendidos, comercializados (portanto... para "perdurarem"?). Não que a arte efêmera não seja comercializável (seus "registros" gravam a "permanência" da efemeridade)... Havia alguns poucos exemplos que poderíamos denominar de arte efêmera. Por outro lado, toda a ideia em si era "efêmera": estávamos visitando uma exposição e isso ia terminar... logo íamos voltar para a escola e retornarmos para nossas casas, para nossas realidades... O que poderíamos fazer para que algo daí "perdurasse"; para que aquela experiência da visitação não se diluísse fugazmente, mas que conquistando a mente, penetrando na memória e encantando o coração se transformasse em conhecimento?
Vimos na ArtRio diversos trabalhos de diferentes conotações, questões políticas, questões lúdicas, subjetivas, questões sensoriais etc. Depois de conversarmos (pedi também que escrevessem) sobre a Feira de Arte e sobre o que eles compreenderam das diferenças entre a Arte Moderna e a Arte Contemporânea, assim como sobre os conceitos do mundo contemporâneo (que nada mais são do que as questões que tanto nos preocupam no mundo de hoje).
A arte contemporânea parte de conceitos do mundo contemporâneo, da vida contemporânea, do pensamento, da filosofia contemporânea. Conceitos ou questionamentos como, o fluxo do tempo, a efemeridade, o espaço do cidadão no mundo, o ativismo político, a geografia das nações, a geografia dos espaços urbanos, a ecologia, o ativismo ambiental, o "uso" político do corpo, a subjetividade, a liberdade de pensamento no mundo tecnológico, as relações em redes, a tecnologia de expansão - e a vulnerabilidade - das imagens e das relações, a questão da "autoria" e o "compartilhamento", a materialidade, as virtualidades internéticas, a ética contemporânea etc. etc.
"Vírgula no Infinito", de Gabriela Gusmão (MAM-RJ): "A mostra é composta de projeções de vídeos silenciosos, cada um com uma hora de duração, e aborda temas como sociedade contemporânea e tempo. A proposta é buscar o limite da percepção através dos vídeos, que possuem variações de luz e de movimento".(8)
"... o repouso é uma vibração feliz..." (Gabriela Gusmão)
Acima, na ArtRio, a turma 1901 visitando a Galeria Jean Boghici, que apresentava diversos trabalhos que faziam referências à memória da infância.
Acima, alunas da 1901 comentando o trabalho de Tatiana Blass(6) - que "registramos" em nossa visita ao MAM-RJ: trata-se um homem de cera com um holofote sobre si: ele vai derretendo durante o tempo em que a exposição permanece no museu, deixando transparecer seu esqueleto metálico, o que restará da obra? - além, claro, de todos os registros - fotográficos, fílmicos etc. -? Jogo conceitual entre o efêmero e o durável.
Quando surgiu a oportunidade para a turma 1901 de uma segunda visitação, agora ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ), solicitei que o setor educativo enfatizasse trabalhos de arte efêmera: os arte-educadores do museu nos apresentaram Tatiana Blass (registros da performance "Metade da Fala no chão - piano surdo" e o "homem de cera") e Gabriela Gusmão (com a videoinstalação "Vírgula no infinito" - que não é propriamente uma arte efêmera, mas que trabalha a questão do tempo), entre, claro, diversos outros trabalhos de artistas modernos e contemporâneos expostos no MAM-RJ.
A proposta para uma proposta:
Para participar desta visita ao MAM, ao contrário da visita à ArtRio, coloquei um "pré-requisito": que os grupos (com uma média de cinco participantes cada) me apresentassem uma proposta de arte contemporânea efêmera (já que vinhamos trabalhando a questão em sala de aula). O projeto tinha de conter (por escrito e desenhado) o que se pretendia, qual material e a relação deste - que deveria ser de natureza "efêmera" - com a proposta do trabalho (caso o material não fosse "efêmero", o processo de aniquilamento da obra deveria ser).
Os alunos foram então instigados a criar propostas cuja tônica era a arte efêmera (i.e., proposta de arte que trabalha a questão da temporalidade - o tempo de cada coisa no mundo, o tempo da vida, o tempo que se acaba, o tempo que se perde, o tempo que se transforma, o tempo que se registra...) . Deixei em aberto tanto o tema (se subjetivo, político, social, existencial etc.), como o uso do material/suporte (usaram desde alimentos até "esculturas" com folhas de caderno, flores naturais e artificiais, massa de modelar e objetos em que atearam fogo ao término da exposição).
O tema sendo livre, eles podiam trabalhar qualquer questão: política, memória pessoal, sentimentos subjetivos, materialidade etc., desde que "conceituassem", colocassem o "porquê" e qual a relação com a efemeridade (o material deveria ser efêmero, i.e., perecível ou semi-perecível e/ou ter uma relação processual-temporal)! Os alunos tinham, portanto, um grande leque de possibilidades a escolher como "questão" para suas propostas. A maioria escolheu questões ligadas à subjetividade (como o amor, a amizade ou a memória da infância).
Deixei livre a escolha do tema (da questão), diferente de alguns outros trabalhos de arte efêmera já realizados na escola em anos anteriores, como, por exemplo, "Como era gostosa minha obra: arte devorada", de 2005, trabalho de arte comestível - Eat-art - que questionava os maus hábitos alimentares do mundo contemporâneo, incentivando a uma alimentação mais saudável -; ou "Arte pela Sustentabilidade: Intervenção na fachada da escola", de 2007, intervenção artística na fachada da escola no dia da Feira Integrada como finalização da proposta sobre consumo consciente de energia, trabalhada nos anos de 2006/2007; ou "'Sticker Art': Fragmentos da História: João Cândido e a Revolta da Chibata", de 2008, uma intervenção com stickers (reprodução de trabalhos dos alunos sobre a "Revolta da Chibata" impressos em papel etiqueta), na parede de uma escola de um bairro vizinho; ou "Scrap Arte Mario Piragibe", de 2008´-2009, proposta inspirada na "Mail-art" usando uma rede social muito em moda - e a favorita de meus alunos - na época (estabelecemos eixos temáticos para compartilharmos: identidade, meio ambiente...); ou "Experiência com arte ambiental", de 2010, uma intervenção dos alunos nos jardins da escola - etc. Nos exemplos acima (cliquem nos títulos), já havia uma questão pré-determinada e os alunos eram instigados a preparar propostas que a bem "resolvesse". No trabalho atual (2011), a questão ficou a escolha de cada grupo de alunos. O que foi "pré-determinado" é que se colocasse claramente a (co)relação da questão da proposta com a efemeridade; a pertinência da correlação ideia/conceito com a estética visual da obra.
Outras Correlações...
Nem sempre questões contemporâneas envolvem a arte contemporânea. O trabalho da turma 1901 sobre arte efêmera foi realizado no segundo semestre de 2011, nos meses de setembro, outubro e novembro. No primeiro semestre, nos ocupamos em especial com realizações plásticas e audiovisuais ligadas a nossa proposta de trabalhar o uso seguro e responsável da internet (ver postagem: cliquem aqui) - que é também uma questão de nosso mundo contemporâneo. O primeiro mês do segundo semestre, agosto, e uma parte de setembro, ainda foram para a conclusão desta proposta anterior (avaliação do trabalho, que foi feita a partir da análise interpretativa e crítica do filme "Confiar", levando em conta o que os alunos aprenderam sobre segurança e responsabilidade na internet durante as aulas -, a confecção de um novo mural e o compartilhamento da produção com a comunidade escolar - na U.E.xpondo II -, numa sessão de cinema para exibição dos vídeos produzidos pelos alunos e outros curtas sobre o tema, para as demais turmas, para convidados etc.).
No segundo semestre, aconteceram não apenas as citadas visitações da turma 1901 à ArtRio e ao MAM (que resultaram nas propostas de arte efêmera). Alunos de minhas outras turmas também participaram de visitações a espaços de cultura e educação externos: ao Centro Cultural Hélio Oiticica, ao CBBB-RJ, ao Cine Glória (por conta dos vídeos dos alunos de artes selecionados para I Festival Audiovisual da SME-RJ) etc., que resultaram em várias propostas de artes inter-relacionadas, visto enfatizarem questões contemporâneas, mas com focos diferentes (talvez eu ainda poste sobre estes trabalhos).
A entrega dos projetos
Os alunos da turma 1901 tiveram até o dia 19 de outubro (véspera da data da visita ao MAM) para apresentarem seus projetos. No dia 26 de outubro, eles apresentaram, em sala de aula, os "protótipos" de suas propostas de artes para os colegas de classe e para os educadores da escola (professores e funcionários) convidados. No dia 29 de novembro, um dos trabalhos participou da Mostra Literária da 6ªCRE.
Fiquei bastante surpresa com o resultado! É bom lembrar que trabalhamos em sala de aula convencional, com materiais elementares, e dentro de uma carga horária bem curta! Falo isso não como "desculpa", exatamente pelo contrário, para mostrar que é possível realizar um trabalho de artes na escola, dentro do ensino formal, mesmo com tempo/espaço e recursos limitados. Claro que mais recursos e espaço/tempo favoráveis dariam uma outra dimensão (estética) aos trabalhos. As propostas apresentadas foram tais como "protótipos", que, no caso de uma exposição em espaços externos (numa Mostra de Arte ou numa exposição especial dentro da própria escola, como a Feira Integrada, por exemplo), precisaríamos de "recursos extras" para bem apresentá-las (assim como os artistas profissionais precisam de patrocínio para realizarem/concretizarem suas obras)! Graças ao patrocínio da direção da escola (para uma atividade extra-classe), um dos trabalhos pode ser apresentado na Mostra Literária da 6ªCRE. Confiram as propostas!
OS TRABALHOS APRESENTADOS:
O trabalho JARDIM DOS SENTIMENTOS mistura flores naturais e artificiais: fala sobre a efemeridade da vida e sobre os sentimentos verdadeiros e falsos.
O trabalho JARDIM DOS SENTIMENTOS mistura flores naturais e artificiais: fala sobre a efemeridade da vida e sobre os sentimentos verdadeiros e falsos.
Fragmento de texto do projeto dos alunos:
"A proposta do trabalho é demonstrar que na natureza, assim como na vida, tudo tem seu tempo, sua hora e seus limites, de nascer, viver e morrer. As flores são como os sentimentos que crescem pouco a pouco como a virtude do tempo. Há pessoas de vida e sentimentos verdadeiros e falsos, assim também são as flores. Se a gente não cuidar das flores de verdade, elas morrem, se não cuidarmos dos sentimentos verdadeiros, eles morrem, e só permanece o que é artificial."
Minha avaliação:
Os alunos montaram o trabalho num tabuleiro, mas poderíamos ter montado (tipo instalação) no chão, ou num "caminho"... A ideia é legal, contemporânea, e dentro da proposta que eu coloquei para esta turma - projetar e realizar um trabalho de arte efêmera! Se não estivéssemos em semana de provas, poderíamos (re)montar o ambiente/instalação outro dia, mas precisaríamos de muitas e muitas flores, "reais" e "artificiais", seria preciso, também, mais engajamento... Se ocupássemos um espaço coletivo da escola (parte do pátio, dos jardins, das escadarias etc.) para deixar o trabalho exposto por uns dias, presenciaríamos, então, as flores naturais irem murchando, até só restarem as artificiais...
A CASA DE DOCES DOS SONHOS é uma casa lúdica e comestível feita de balas e doces, para ser partilhada ao final da exposição.
Fragmento de texto do projeto das alunas:
"A proposta da Casa de Doces dos Sonhos é a de fazer todos relembrarem os tempos de criança, da infância, em que se sonhava ter uma casa de doces para se deliciar quando escutavam ou liam a fábula de João e Maria. Com nossa Casa de Doces, queremos que todos voltem aos tempos de infância, para se divertirem, saboreando as gostosuras da Casa de Doces dos Sonhos."
Minha avaliação:
As alunas alcançaram o objetivo proposto de construção de uma obra de arte efêmera, visto ser uma obra em que foram usados materiais comestíveis e, portanto, de pouca durabilidade - dura o tempo - salvo os registros fotográficos, escritos etc. - da exposição. Interessante o resgate e a partilha dos sonhos de infância - de uma infância em que meus alunos, adolescentes, estão deixando para trás ao entrarem na idade adulta. A infância parece passar rápido, mas os sonhos e as fantasias permanecem... Interessante também a referência do trabalho à fábula de João e Maria, a clássica história dos Irmãos Grimm, onde a casa de doces simboliza o encanto e a sedução que o "proibido", o ilícito, pode ter... Ao saborearem as delícias de que a casa de doces da fábula era feita, os personagens, João e Maria, tiveram de provar as amarguras de uma realidade nada bela: a casa era um velho e destruído casebre de madeira, habitado por uma bruxa má, que os faz prisioneiros, escravos de suas vontades e que, por fim, intenta devorá-los!
Poder rememorar a velha fábula e realizar o sonho de toda criança que a escuta ou lê (como dizem as alunas), mas em forma de obra de arte, sem os "perigos", remete a um movimento de catarse nesta passagem entre a infância e a idade adulta, que é a adolescência.
A participação da turma...
Durante a apresentação em sala de aula, os alunos conversaram com os visitantes sobre a intenção (a ideia) de suas propostas.
Compartilhando...
O trabalho A CASA DE DOCES DOS SONHOS foi indicado para participar da MOSTRA LITERÁRIA da 6ªCRE, no dia 29/11/11 (as alunas precisaram refazer o trabalho, já que este foi consumido no dia da apresentação em sala de aula).
Na Mostra Literária da 6ªCRE
Fragmento de texto do projeto dos alunos:
"O trabalho propõe por frente a frente o contraste entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos. Através de bolos de diferentes tamanhos mostrar o nível de desenvolvimento entre certos países, dando foco principalmente à desigualdade entre eles, pois muitos dão prioridade a coisas supérfluas, enquanto outros dão bastante atenção ao desenvolvimento social de sua população."
Minha avaliação:
A proposta está interessante, embora o grupo não tenha deixado claro no texto do projeto (e nem nas indagações do público durante a apresentação) o porquê de ter escolhido bolos (embora fique claro o motivo dos tamanhos) como objeto-suporte (e qual a relação com a efemeridade). De qualquer modo, penso que nem tudo precisa ser "explicado" em artes (pelos artistas que conceberam/criaram a obra ou os espectadores). Isso até deixou o trabalho mais instigante... O espectador pode colocar para si o "por que?" E buscar... o "não-dito" na obra!
Interessante também o fato do grupo ter "comprado" os bolos, em vez de os terem feito (criado) com suas próprias mãos. A ideia, a conceitualidade da obra, foi o que prevaleceu. O grupo precisou deixar isso claro aos visitantes (uma professora chegou a colocar: "ah, mas esse trabalho não foi feito por vocês!" Não? Claro que sim! Na arte contemporânea o mentor da ideia proposta é que é o autor, o artista!).
BORBOLETA - Um bolo caseiro em forma de borboleta
Fragmento de texto do projeto dos alunos:
"As borboletas, após saírem do casulo onde viviam como lagartas, vivem apenas 24 horas, ou seja, um dia. E o bolo, quantos dias pode durar? Na exposição, algumas horas? Minutos? Até ser comido... Na geladeira, alguns dias. Tudo tem um tempo de duração..."
Minha avaliação:
Um trabalho em que a relação entre objeto-suporte-matéria e o conceito da proposta ficou bem clara nas palavras do projeto. A questão do tempo, do tempo da vida, de duração de todas as coisas... Muito boa a realização estética e a relação com a conceitualidade proposta.
ESTRUTURAS DE PAPEL - Trabalhos feito com folhas de caderno que remetem aos barquinhos (e outras dobraduras) de papel de nossa infância.
Fragmento de texto do projeto dos alunos:
"Esculturas de papel, com folhas de caderno, são efêmeras, pois foram feitas só para essa exposição, para a apresentarmos uma única vez, e não para guardarmos."
Minha avaliação:
A proposta da efemeridade está "bem resolvida", mas: por que folhas de caderno (e não outro tipo de papel)? Por que os barquinhos de dobradura e o balão? Uma referência à infância? O grupo não deixou claro no texto do projeto (e nem quando indagados durante a apresentação). Mas vejo como uma possibilidade de leitura, já que uma das galerias que visitamos na ArtRio mostrava trabalhos de arte com referência à infância. Além disso, como eu falei em relação ao grupo que apresentou "A Casa de Doce dos Sonhos", os alunos desta turma (último ano do Fundamental) estão numa fase de transição, adolescentes saindo "definitivamente"[?] da infância: vão deixar a sua escola "primária" e seguir para novas etapas de suas vidas... É uma leitura possível esta... Que outra ou outras há? O grupo poderia ter ousado um pouco mais (na realização estética da obra)? O trabalho pode gerar mais questionamentos...
AMOR SEM FIM - Massinha de modelar forma um coração e a palavra "amor".
Fragmento de texto do projeto das alunas:
"A massinha é modelável, flexível, como o amor, pode ficar dura, rachar, envelhecer, mas nunca acaba, como o amor. Mas pode também ser descartada, quando não é o verdadeiro amor."
Minha avaliação:
As palavras do projeto mostram qual a relação entre o conceito que se queria trabalhar e a materialidade com que a proposta foi realizada. Relação bem resolvida entre ideia e materialidade. Por outro lado, a realização estética da obra poderia ter sido mais trabalhada? Como?
AMOR, UMA CHAMA QUE SE APAGA: Um coração feito de papel crepom e fósforos virgens, com o objetivo de se acender os fósforos para o trabalho se consumir...
Fragmento de texto do projeto dos alunas:
"O porque desta obra? Fizemos essa obra inspirada em um sentimento, o 'amor'. O amor é um sentimento que não conseguimos explicar, ele simplesmente acontece. em alguns casos, esse sentimento dura para sempre, mas em outros, não. No começo é uma chama ardente, o 'amor', mas depois, essa chama se apaga. E foi exatamente para mostrar essa situação que o trabalho foi feito, é um sentimento forte, quente, mas que vai se acabando, como as chamas que o consomem."
Este grupo foi o primeiro a entregar - muito antes do prazo que eu havia estipulado - o projeto e o trabalho (melhor: uma parte do trabalho, já que sua completude só se daria na consumação da obra em chamas, o que só ocorreu no dia da apresentação). A ousadia da proposta foi o que mais me chamou a atenção. Interessante a relação entre os elementos materiais do objeto-suporte (os fósforos virgens, o papel crepom, cujo fogo consome rápido...) e a ideia da proposta. Estética visual sedutora aliada à ousadia da ideia!
AVALIAÇÃO GERAL DA PROPOSTA
Nesta avaliação geral, vou repetir a minha avaliação - que considero ainda pertinente e de acordo com esta minha proposta atual - de um outro projeto de arte efêmera - "Como era gostosa minha obra... Arte devorada!" -, que trabalhei na escola há alguns anos: "Os alunos sempre estudaram sobre a arte que consta dos livros de História e que, em sua maioria, faz parte da dita 'arte perene'. E nós, mesmo o mundo tendo mudado, as mentalidades terem mudado, os conceitos de arte e obra terem mudado, continuamos reproduzindo dentro da escola conceitos modernos ou pré-modernos (nem sempre, é verdade, mas na maioria das vezes." [...] "Eu queria que os alunos tivessem uma experiência diferente com a arte. O trabalho dentro da escola acaba sempre ficando muito formal. Arte na escola é quase sempre com os mesmos suportes (de um modo geral, papel ofício, cartolina, folhas de caderno, às vezes, uma sucata, um TNT...), os mesmos materiais (geralmente lápis de cor, canetinha hidrocor, lápis cera, tinta guache...); e com tantas turmas lotadas, tão pouco tempo de aula, além da ausência de um espaço apropriado, muito raramente ousamos trabalhar algo que desvie do formal. E no entanto, esta ausência de um espaço apropriado é o que mais deveria nos incentivar a pensar algumas propostas com 'performances' ou 'intervenções', 'ocupações', entre outras experiências em artes cujo suporte é o próprio corpo ou o entorno, senão meramente a própria experiência (a experiência é a obra). Certo que nada disso é novidade no mundo das Artes, mas é uma experiência inédita para os alunos que têm então a oportunidade de aumentar seus conhecimentos em linguagens artísticas, seus conceitos em relação ao mundo contemporâneo e ainda ampliar suas experiências estéticas."
Nesta avaliação geral, vou repetir a minha avaliação - que considero ainda pertinente e de acordo com esta minha proposta atual - de um outro projeto de arte efêmera - "Como era gostosa minha obra... Arte devorada!" -, que trabalhei na escola há alguns anos: "Os alunos sempre estudaram sobre a arte que consta dos livros de História e que, em sua maioria, faz parte da dita 'arte perene'. E nós, mesmo o mundo tendo mudado, as mentalidades terem mudado, os conceitos de arte e obra terem mudado, continuamos reproduzindo dentro da escola conceitos modernos ou pré-modernos (nem sempre, é verdade, mas na maioria das vezes." [...] "Eu queria que os alunos tivessem uma experiência diferente com a arte. O trabalho dentro da escola acaba sempre ficando muito formal. Arte na escola é quase sempre com os mesmos suportes (de um modo geral, papel ofício, cartolina, folhas de caderno, às vezes, uma sucata, um TNT...), os mesmos materiais (geralmente lápis de cor, canetinha hidrocor, lápis cera, tinta guache...); e com tantas turmas lotadas, tão pouco tempo de aula, além da ausência de um espaço apropriado, muito raramente ousamos trabalhar algo que desvie do formal. E no entanto, esta ausência de um espaço apropriado é o que mais deveria nos incentivar a pensar algumas propostas com 'performances' ou 'intervenções', 'ocupações', entre outras experiências em artes cujo suporte é o próprio corpo ou o entorno, senão meramente a própria experiência (a experiência é a obra). Certo que nada disso é novidade no mundo das Artes, mas é uma experiência inédita para os alunos que têm então a oportunidade de aumentar seus conhecimentos em linguagens artísticas, seus conceitos em relação ao mundo contemporâneo e ainda ampliar suas experiências estéticas."
OUTRO TRABALHO QUE FIZEMOS POR CONTA DE NOSSAS VISITAÇÕES...
Desenhos hiper-realistas de Juan Casas(5)
Inacreditável, não? Quando retornamos à escola, propus uns trabalhos com o mesmo material, após termos lido um texto(4) sobre a história da caneta esferográfica: pode parecer banal, mas a esferográfica é uma das grandes invenções de nosso tempo! Confiram abaixo algumas experiências com caneta esferográfica realizadas pelos alunos (participaram desta atividade todas as minhas turmas do Fundamental II - e não apenas a t. 1901, que conheceu a obra de Juan Casas de perto - ; apresentei às demais turmas as reproduções fotográficas das obras do artista). Embora eu tenha achado melhor, em um primeiro momento, deixar (esteticamente) "livre" a realização dos alunos com a caneta esferográfica, pensei e planejei (mas ficará para uma próxima ocasião) um trabalho a partir de fotos (simples) do cotidiano tiradas pelos próprios alunos. Assim eles poderão vivenciar a experiência de como os hiper-realistas trabalham.(5)
MURAL COM OS REGISTROS FOTOGRÁFICOS: Pensei em criarmos propostas de arte a partir dos registros fotográficos dos alunos (que foram muitos!) nas duas exposições, mas "dificuldades técnicas" - para imprimir e/ou salvar em mídias - e o fato de estarmos nos aproximando do fim do ano letivo, portanto, termos muitas semanas de provas (internas e externas), a ideia ficou só mesmo na ideia... De qualquer modo, montamos um mural com alguns dos registros fotográficos para assim compartilharmos com a comunidade escolar, imprimindo na permanência da memória a efemeridade das experiências vividas e trabalhadas pela turma.
REFERÊNCIAS E NOTAS:
1 - Para saber como sua escola pode participar do projeto de alunos da rede municipal do Rio como monitores em exposições (em especial na ArtRio), fiquem atentos às postagens do blog Conexão das Artes SME-RJ: http://conexaodasartes-sme-rj.blogspot.com/search/label/ArtRio
2 - Duas postagens sobre o projeto piloto de alunos monitores: Rioeduca Net - A revolução Acontece: "Alunos da Rede Monitores na ArtRio: I Feira Internacional de Arte Contemporânea do Rio: http://www.rioeduca.net/blogViews.php?id=1549 e no Conexão das Artes SME-RJ: "Alunos do Projeto Piloto de Monitoria na ArtRio 2011 Visitando a SME-RJ": http://conexaodasartes-sme-rj.blogspot.com/2012/01/alunos-do-projeto-piloto-de-monitores.html
3 - "A Ciência de... uma caneta", Revista Sapiens - 100% Ciência, nº2, Super Interessante, Editora Abril, p.17. Texto sobre a caneta esferográfica que trabalhei com meus alunos.
4 - Sites de onde tirei as imagens do artista espanhol Juan Francisco Casas, que realiza desenhos com caneta esferográfica: "Desenhos realistas na ponta da caneta": http://blogs.pop.com.br/nerd-e-geek/desenhos-realistas-na-ponta-da-caneta/ - ou o site da Galeria Fernando Pradilla:
5 - Hiper-Realismo: "Hiper-realismo ou foto-realismo [registra] a ambição de atingir a imagem em sua clareza objetiva, com base em diálogo cerrado com a fotografia. Os hiper-realistas 'fazem quadros que parecem fotografias', afirma o crítico Gilles Aillaud"[...]"a imagem fotográfica é um recurso permanente dos "novos realistas", sendo utilizada de diversas maneiras. A foto é usada, antes de tudo, como meio para obter as informações do mundo, pinta-se a partir delas. O pintor trabalha tendo como primeiro registro os movimentos congelados pela câmera, num instante preciso." [...] "O mundo cotidiano retratado pelos hiper-realistas, em geral, refere-se aos aspectos banais, às cenas e atitudes familiares, aos detalhes captados pela observação precisa". http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=329
6 - Para saber mais sobre Tatiana Blass: na web: http://blogartemix.blogspot.com/2011/11/tatiana-blass.html - ou - http://www.premiopipa.com.br/?page_id=925
Este mês, janeiro de 2012, saiu uma reportagem sobre a artista na revista Dasartes: "Tatiana Blass", por Fernanda Lustosa: Dasartes - Artes Visuais em Revista, ano 4, nº19, verão de 2012, pp.44-46.
7 - Vírgula no Infinito", de Gabriela Gusmão: http://www.guiadasemana.com.br/artes-e-teatro/virgula-no-infinito-museu-de-arte-moderna-mam-24-08-2011 - ou: "Artes - Gabriela Gusmão apresenta 'Vírgula no Infinito'": http://www.negodito.com/artes-gabriela-gusmao-apresenta-%E2%80%9Cvirgula-no-infinito%E2%80%9D-no-rio-a-partir-de-30-de-agosto/
8 - Para conhecer minhas estratégias pedagógicas no enino da arte na escola fundamental, ler: "A aplicabilidade do pensamento filosófico na arte educação": http://artemariopiragibe.blogspot.com/2010/08/aplicabilidade-do-pensamento-filosofico.html - ou neste link: http://rioeducaideias.blogspot.com/search?updated-min=2010-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2011-01-01T00:00:00-08:00&max-results=1 - e ainda este outro texto: "Sobre o planejamento de artes visuais": http://artemariopiragibe.blogspot.com/2010/08/sobre-planejamento-de-artes-visuais.html
Na web, um site didático sobre: Arte Efêmera: http://www.itaucultural.org.br/efemera/abertura.html
10 - SCOVINO, Felipe (org.). Arquivo Contemporâneo, 7 Letras, Rio de Janeiro, (1ªed. 2009), 2011. Um material excelente para se compreender o pensamento e os processos criativos dos artistas plásticos contemporâneos é este livro de entrevistas com importantes nomes das artes plásticas brasileira, Anna Bella Geiger, Cildo Meireles, Ricardo Basbaum, Antonio Dias, Waltércio Caldas entre outros. / E sobre "arte conceitual", ver este post da Enciclopédia Itaú Cultural - Artes Visuais - Termos e Conceitos - Arte Conceitual: http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3187&cd_idioma=28555