A APLICABILIDADE DO PENSAMENTO FILOSÓFICO NA ARTE EDUCAÇÃO
“Não se deve ensinar pensamentos, mas a pensar; não se deve carregar o aluno, mas guiá-lo se quer que ele seja apto no futuro a caminhar por si próprio. [...] Ampliar a aptidão intelectual dos jovens que nos foram confiados e formá-los para um discernimento próprio [...] Semelhante procedimento tem a vantagem de que o aprendiz, mesmo que jamais chegue ao último grau, como em geral acontece, terá sempre ganho alguma coisa com o ensino e se terá tornado mais atinado, senão perante a escola, pelo menos perante a vida."
Immanuel Kant(1)
Imaculada Conceição
É difícil falar a propósito da necessidade do estudo filosófico no âmbito da prática da arte educação sem tocar neste ponto essencial: de que essa necessidade não difere em nada da que podemos exigir para todas as ordens da realidade humana. Qualquer que seja a área de estudo, pesquisa ou ação, o pensamento filosófico e reflexivo é de suma importância.
A origem da filosofia confunde-se com a origem das primeiras indagações humanas (primeiras, porque essenciais) em suas tentativas de compreender o mundo, a realidade e, sobretudo, buscar um sentido para a própria existência.
O “papel” da filosofia (se formos procurar por uma “utilidade”: sempre tão exigida!) é o de contribuir através do exercício do pensamento, da reflexão e da crítica para que nos tornemos mais conscientes, não apenas de nosso próprio ser (i.e., nossa singularidade enquanto indivíduos, únicos e insubstituíveis), mas também de nosso fazer e de nossa inserção no mundo (o espaço sócio-histórico-cultural-etc. do qual fazemos parte), portanto, como sujeitos históricos, sociais e políticos que somos. Mas é especialmente na consciência de sermos integrantes de uma mesma comunidade: a comunidade humana (pessoas que têm direitos, mas também deveres, sobretudo éticos; pessoas que diferem em suas contextualidades e se assemelham por nossa humana origem comum), que o pensamento filosófico participa mais ativamente. Mas e quanto à educação em arte?
Poucos devem duvidar da importância do pensamento reflexivo nas várias áreas do conhecimento humano. Mas talvez haja alguns que ainda questionem qual a real aplicabilidade do estudo filosófico numa área de natureza essencialmente prática, como é o caso da arte educação. É ter no entanto a vista curta ou não estar disposto a penetrar no coração mesmo do fazer artístico (seja este de natureza musical, teatral, literária, visual etc.).
Toda atividade artística exige um pensar específico (o pensamento visual, o pensamento espacial, o pensamento musical etc.) e uma inteligência própria que o viabilize. Ora, quem duvida que um músico não precise de uma atividade intelectual para criar e executar suas composições musicais? Ou que arquitetos não aliem inteligentemente visualidade espacial, beleza e cálculos matemáticos para o sucesso e viabilidade de seus projetos? Ou que um perfumista não faça plenamente uso de suas faculdades mentais para aliar conhecimentos de química com o prazer sensível de suas misturas aromáticas? Ou que um desenhista industrial não precise de uma inteligência matemática e de um atento senso comum para aliar prazer estético, praticidade e utilidade? O fazer artístico depende de um pensamento reflexivo capaz de conectar elementos diversos pertencentes às nossas múltiplas faculdades (capacidades), tais como o entendimento, a imaginação, a sensibilidade etc.(2)
Certo, nossos alunos não são - ao menos ainda e talvez nunca pensem mesmo em ser - artistas plásticos, músicos, paisagistas, dramaturgos, estilistas, escritores, cenógrafos, cineastas, fotógrafos, dançarinos etc. Aliás, não é objetivo da arte na escola fundamental formar artistas e/ou críticos de arte; mas oportunizar o exercício do fazer/pensar/julgar/experimentar arte (numa compreensão de suas contextualizações). O que eu quero sublinhar aqui é que o exercício do fazer artístico não difere muito do de um profissional para o de um “amador” (alguém que só faz por hobby ou pelo simples prazer de fazer gratuitamente), assim como não mais para o de nossos alunos.
Toda atividade artística exige um pensar específico (o pensamento visual, o pensamento espacial, o pensamento musical etc.) e uma inteligência própria que o viabilize. Ora, quem duvida que um músico não precise de uma atividade intelectual para criar e executar suas composições musicais? Ou que arquitetos não aliem inteligentemente visualidade espacial, beleza e cálculos matemáticos para o sucesso e viabilidade de seus projetos? Ou que um perfumista não faça plenamente uso de suas faculdades mentais para aliar conhecimentos de química com o prazer sensível de suas misturas aromáticas? Ou que um desenhista industrial não precise de uma inteligência matemática e de um atento senso comum para aliar prazer estético, praticidade e utilidade? O fazer artístico depende de um pensamento reflexivo capaz de conectar elementos diversos pertencentes às nossas múltiplas faculdades (capacidades), tais como o entendimento, a imaginação, a sensibilidade etc.(2)
Certo, nossos alunos não são - ao menos ainda e talvez nunca pensem mesmo em ser - artistas plásticos, músicos, paisagistas, dramaturgos, estilistas, escritores, cenógrafos, cineastas, fotógrafos, dançarinos etc. Aliás, não é objetivo da arte na escola fundamental formar artistas e/ou críticos de arte; mas oportunizar o exercício do fazer/pensar/julgar/experimentar arte (numa compreensão de suas contextualizações). O que eu quero sublinhar aqui é que o exercício do fazer artístico não difere muito do de um profissional para o de um “amador” (alguém que só faz por hobby ou pelo simples prazer de fazer gratuitamente), assim como não mais para o de nossos alunos.
O que difere a prática artística profissional da gratuidade singular (“desinteressada”) de todo fazer/pensar artístico (o “livre jogo das faculdades”) é a intenção (o “interesse”) - que se concretiza no final do processo. O processo em si (i.e., enquanto forma de pensamento) não difere muito. Nosso aluno, quando da construção de seu trabalho de arte, faz uso, tanto quanto o artista profissional, do “pensamento reflexivo” - que é a raiz do pensamento estético(3). O que difere é que ele não tem por pretensão, por exemplo, sua inserção no Mercado e/ou na História da Arte, sua pertença ao meio artístico etc. ( - isso que não elimina toda “intencionalidade”, mas marca uma diferença de perspectiva e de orientação final desta, que, no caso, estaria orientada especialmente para o processo de construção do trabalho – inclusive como produto final, porém indiferente ao que não seja o simples fazer/criar; em outras palavras: a interconexão do pensar-fazer). Em comum ainda, além do pensamento reflexivo, a capacidade de interagir e comunicar-se: elos de conexão do pensamento e sentimentos de quem cria e/ou aprecia e ajuíza com toda a comunidade humana.
Cena de "Animação Trash: Nossas Primeiras Experiências" realizada pelos alunos da E.M. Mario Piragibe na Oficina Itinerante de Animação(Núcleo de Arte Grande Otelo) (4)
Pensar e fazer ou fazer e pensar são duas faces de uma mesma inserção no mundo. Ambos estão de tal modo intimamente conectados que o simples imaginar uma prática sem pensamento ou um pensar sem uma prática não passa de fato de uma quimera (talvez, mesmo, inconcebível, inimaginável, impensável: pois ao conceber, imaginar ou pensar, já não estamos nós praticando um ato - mesmo que seja o ato íntimo de cogitar? - e este não pode, cedo ou tarde, vir a inserir-se no mundo e tornar-se realidade sob alguma forma?).
Pode-se pensar mal. Ou pode-se agir irrefletidamente (i.e., sem uma reflexão consciente das causas que originaram os nossos atos ou das conseqüências que eles terão). Pode-se negligenciar a conexão essencial entre o pensar e o agir; mas não se pode evitá-la (ao menos enquanto em pleno uso de nossas consciências). O mais simples fazer exige alguma forma de pensamento e uma inteligência específica que o acompanha. O mais elementar ato de pensamento exige uma ação que se executa no próprio ato de pensar; ou, em um nível mais elaborado, no construir-se como forma aplicada de pensamento (como obra, método, fala, informação, comunicação etc.), i.e., sua aplicação (realização) na ordem do real; ou, em uma etapa ainda mais completa (e complexa): na transformação da ordem do mundo e da vida.
Pode-se pensar mal. Ou pode-se agir irrefletidamente (i.e., sem uma reflexão consciente das causas que originaram os nossos atos ou das conseqüências que eles terão). Pode-se negligenciar a conexão essencial entre o pensar e o agir; mas não se pode evitá-la (ao menos enquanto em pleno uso de nossas consciências). O mais simples fazer exige alguma forma de pensamento e uma inteligência específica que o acompanha. O mais elementar ato de pensamento exige uma ação que se executa no próprio ato de pensar; ou, em um nível mais elaborado, no construir-se como forma aplicada de pensamento (como obra, método, fala, informação, comunicação etc.), i.e., sua aplicação (realização) na ordem do real; ou, em uma etapa ainda mais completa (e complexa): na transformação da ordem do mundo e da vida.
Parangolé de Hélio Oiticica
(1) KANT, I. Lógica (Apêndice: “Anotações do professor Immanuel Kant sobre a organização de suas preleções no inverno de 1765-1766”).
(2) e (3) KANT, I. Crítica da Faculdade do Juízo – a terceira Crítica kantiana, onde o filósofo aborda o pensamento estético.
(2) e (3) KANT, I. Crítica da Faculdade do Juízo – a terceira Crítica kantiana, onde o filósofo aborda o pensamento estético.
(4) Assistam a primeira parte de "Animação Trash: Nossas Primeiras Experiências": http://nucleodeartegrandeotelo.blogspot.com/2009/10/as-animacoes-de-nossos-alunos-estao-na.html
Parabéns pelo trabalho, adorei seu blog e suas inciativas artisticas no propósito de educar. Sou educadora da área de Literatura.
ResponderExcluirUm abraço!
http://jarrimdefulo.blogspot.com/