terça-feira, 11 de maio de 2010

NA TERRA DA SAUDADE...


NA TERRA DA SAUDADE...


Como aprendemos e nos divertimos com nosso prêmio de viagem a Portugal


[ Histórico de Arte da Mario: Texto de 2008, originalmente um e-mail contando as novidades a um amigo "virtual", transformado em Relatório de Viagem entregue à Prefeitura do Rio. Esta versão simplificada foi solicitada, posteriormente, pela própria Prefeitura ]



As viagens são os viajantes. O que vemos não é senão o que somos.
Fernando Pessoa






Imaculada Conceição


Ano passado (2007), como preparativo às comemorações para o bicentenário da chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro (1808-2008), eu, professora de Artes da 6ª.CRE e minha aluna, Karoline Brum, ganhamos um prêmio de viagem a Portugal. Seu desenho foi o vencedor das escolas do município do Rio. A aluna Haymara Reis (7ª.CRE), autora da redação premiada sobre o tema, e sua professora orientadora, Kátia Cordeiro, de História, foram nossas companheiras de viagem, juntamente com as mães das meninas, Fátima e Jomária.

Encontrei-me com o grupo já no saguão do aeroporto (havíamos combinado de irmos todas juntas numa van da 6ª.CRE, mas, por motivos pessoais, precisei buscar outro meio de transporte). Lá, Gustavo, fotógrafo da Prefeitura, registrou o nervosismo dos últimos preparativos rumo a nossa lusa aventura, que às 23 horas de um sábado, 26de julho de 2008, dava início ao embarcarmos no Tom Jobim, no Rio...

O desembarque no aeroporto de Lisboa foi recepcionado por Margarida, nossa simpática cicerone portuguesa, e Luis, o discreto motorista que nos guiou pelos trajetos turísticos. Após um breve tour de veículo pela Lisboa histórica, fomos conduzidas ao Hotel Arts Vips, na estação Oriente, na área do Parque das Nações, onde se realizou a Expo 98. Agradável e bem situado, tínhamos ainda o prazer de avistarmos, à entrada do hotel, um interessante mural de azulejos pintados à la pop-art e dos quartos, uma bela vista do estuário do Tejo.





Chegamos num domingo à tarde (27/07) e aproveitamos o dia livre para conhecermos melhor o “sítio” (como falam os portugueses) onde estávamos. Passeamos pelo Parque das Nações, tiramos fotos à beira do Tejo e almoçamos no Centro Comercial Vasco da Gama. Minha primeira (e boa!) surpresa foi ver que os portugueses são bem mais parecidos com a gente do que apenas o fato de compartilharmos a mesma língua... O povo de lá se parece muito com o nosso. Passeando pelo Centro Comercial me senti num destes shoppings daqui. Certo, shoppings centers (estas “catedrais do consumo”, como se diz) são shoppings centers em qualquer lugar do mundo! Mas eu falo das pessoas que por lá (e também pelas ruas, pelos metrôs, elétricos, comboios etc.) circulavam. Tudo com cara de brasileiro! Mas, a maior de minhas alegrias foi mesmo dar de cara com o clima quente do verão lisboeta, o ambiente ensolarado, o céu lindamente azul... Se Fernando Pessoa disse que sua pátria era a língua portuguesa, eu, por meu lado, diria que minha pátria é o clima, o ambiente em geral, quente e ensolarado, onde um fascinante céu azul cobre um povo simpático, receptivo, misturado, multicultural... Onde houver um clima assim, estarei em casa!



Na manhã seguinte, Margarida e Luis chegaram cedo ao hotel (não sem antes dar tempo de nos deliciarmos com o “pequeno almoço”, como eles chamam o farto café da manhã) para nosso primeiro passeio oficial. Fomos conhecer o bairro histórico de Belém e seus belos monumentos: o Padrão do Descobrimento, a Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos, uma das maiores obras da arquitetura quinhentista, o estilo manuelino (fechado em nossa primeira tentativa de visita, retornamos depois...) etc.


No Mosteiro, surpreendeu-me o túmulo de Fernando Pessoa (o escritor português dos heterônimos: suas muitas faces literárias): um monumento um tanto sem graça (minha primeira impressão...), me lembrava aquele monólito do filme “2001: Uma Odisséia no Espaço”, o que contrastava com o pátio interno, o claustro, e o preciosismo de seus detalhes arquitetônicos.






Mas a idéia até que era boa, as faces remetiam aos heterônimos do poeta e numa delas líamos: “Não basta abrir a janela pra ver os campos e o rio. Não é bastante não ser cego para ver as árvores e flores” (Alberto Caeiro).

Na igreja do Mosteiro, uma parada para fotografar os túmulos de Camões e Vasco da Gama. Na saída, passamos para experimentar os famosos (e deliciosos!) pastéis de Belém e almoçarmos na praça...




Caminhamos pelo bairro do Chiado, pelo Bairro Alto, Bairro de Alfama - o mais antigo e pitoresco de Lisboa com suas ruelas, escadarias e roupas secando nas janelas e cuja arquitetura dos casarios me lembrava uma parte do Rio...



Fomos então ao Castelo de São Jorge, não sem antes, do miradouro, nos extasiarmos com uma das mais belas vistas panorâmicas da cidade de Lisboa e do estuário do Tejo! Muito linda Alfama (este bairro histórico, cujo nome deriva do árabe e significa “fonte d’água”) vista do alto, com seu traçado irregular e bonitos telhados. Subimos às torres do Castelo, passeamos pelas plataformas das muralhas...




Fomos também ao Museu dos Coches, à Fundação Calouste Kulbenkian, ao Museu da Cidade de Lisboa (onde conhecemos um pouco da história da cidade, o terrível terremoto que a destruiu em 1775 e sua posterior reconstrução). Alguns pontos só vimos de dentro do veículo turístico: a Ponte 25 de Abril, o monumento Cristo Rei que semelha nosso Redentor carioca, a Praça do Comércio...


Noutra ocasião, visitamos o Palácio de Queluz e seus encantadores jardins, freqüentemente comparados aos de Versailles. Lá como em outros palácios que visitamos, Mafra, Palácio Nacional da Ajuda etc., encontramos a presença da realeza portuguesa que em nossas terras aportaram: D. João VI, D. Maria I, D. Carlota Joaquina, D. Pedro I (ou D. Pedro IV, título que nosso imperador ganhou ao retornar a seu país e que deu nome a uma famosa praça do centro de Lisboa, apelidada pelos portugueses, do Rossio) etc.

Numa das noites, no Bairro Alto, visitamos uma casa de Fado, onde nos deliciamos com as canções sobre Lisboa, saudades, amores, desencontros, paixões tristes... e, claro, as gostosuras da culinária portuguesa! Os artistas manifestaram muita alegria em ver que éramos brasileiras. Dedicaram músicas em nossa homenagem... Achei tudo muito simpático! E saber que entramos nesta casa meio que por acaso... Diria... pelo “destino”? - que é o que significa a palavra “fado”, do latim “fatum”! Foi uma noite bem alegre! Comemos bem, nos divertimos, Jomária se empolgou e até cantou!


No último dia de visita guiada (31/07), fomos a Cabo da Roca (a ponta mais ocidental do continente europeu, assim definida por Luis de Camões: “Onde a terra acaba e o mar começa”). Em Sintra, a bela cidade que inspirara o poeta Lord de Byron, infelizmente deu só pra tirar umas fotos, comprar uns postais, uns suvenires... No veículo, recebemos um sedutor folder com informações dos pontos turísticos (castelos, palácios, museus, adegas etc.). Ficamos apreciando Sintra impressa no papel, enquanto seguíamos para Cascais...




Em Cascais, jantamos depois de irmos à praia... Em Ericeira (onde também há praias), havíamos almoçado sardinha assada (o prato favorito deles no verão, segundo nossa cicerone portuguesa), queijo, vinho...


E já que falo de comida, aproveito para contar nossa experiência com uma sobremesa portuguesa, “Leite Creme”, num restaurante no Centro Comercial Vasco da Gama, onde fomos quase que “ obrigadas” a provar, pois o garçom, não sabendo nos explicar o que era, disse que é o que nos serviria para conhecermos... Aceitamos. Garanto-lhes... Um doce pra lá de gostoso!


No dia livre (terça, 29), Karoline e Haymara, acompanhadas de suas mães, foram conhecer o Oceanário e andar de teleférico no Parque das Nações. Eu, a professora Katia e duas amigas suas, em passeio pela Europa, fomos a Óbido (nome de origem latina que, embora possa nos fazer lembrar de algo “macabro”, na verdade significa “cidade fortificada”), onde estão preservadas as ruínas de um castelo medieval e suas quilométricas muralhas!

Minha impressão geral foi a que eu disse no início... Nos shoppings, no metrô, pelas ruas me sentia no Brasil. Pelo povo, pelo clima (quente do verão lisboeta), pela língua, pela arquitetura (além de nossa lusa colonização, o Rio foi sede da Família Real portuguesa, que montou pra esses lados todo um cenário - arquitetônico, artístico, cultural etc. - bem a seu gosto, que incluía um gosto francês). As meninas se divertiam com tudo. E certamente aprenderam muitas coisas. Nas várias visitas aos museus, Karoline aproveitava e fazia esboços dos quadros e fotografava as imagens que ela gostava (ela me disse que era para umas idéias que estava tendo...). Hayamara mostrava-se atenta a tudo como que pensando que boa história aquilo não ia dar!

Enfim, hora de irmos embora... Em 1 de agosto, eu, Karoline e Fátima retornamos ao Brasil (a professora Kátia, Haymara e sua mãe permaneceram na Europa, para uma esticada a Roma). Nos despedimos de Luis e Margarida, que nos assessoraram até nosso embarque.


Na volta, o brilho do sol e o céu azul sobre o Atlântico deixaram minha alma ainda mais satisfeita... Não apenas pela volta ao lar, como pelo contraste com o ambiente da ida (durante a noite, as janelas fechadas, aquela escuridão mórbida dos corredores, as pequenas luzes no teto do avião pareciam velar uma noite interminável...). No aeroporto Tom Jobim, uma van da 7ª. CRE nos aguardava junto a nossos familiares ansiosos pelas novidades da terra que nos deixou de herança a palavra “saudade”...






Postado Por Imaculada Conceição Manhães Marins

Nenhum comentário:

Postar um comentário